Selos da ABIC e tipos de produção de café brasileiro
Você se lembra do primeiro café que tomou na vida?
Eu não te conheço, mas vou chutar que foi um café tradicional, feito por alguém já acostumado com a intensidade e o amargor característico de um café muito torrado.
É muito provável que eu tenha acertado, já que esse é o tipo de café mais consumido aqui no Brasil. Tanto que muitas pessoas evitam a bebida por conta de seu amargor.
Contudo, diversos tipos de café chegam à gôndola do supermercado e muitos deles sequer apresentam sabores tão agressivos como estamos acostumados, muitas vezes sendo mal interpretados e taxados de “chafé”.
Esses diversos tipos de café são avaliados pela ABIC.
Quem é a ABIC?
A ABIC é uma associação que regulariza os cafés encontrados nos supermercado através de selos de pureza, sustentabilidade e qualidade, que devem ser encontrados na embalagem de produtos certificados.
Os tipos de café são regulamentados pela ABIC (Associação Brasileira da Indústria do Café), que tem como o objetivo fiscalizar o mercado interno e de melhorar a qualidade da bebida comercializada.
A iniciativa nasceu de uma crise no consumo interno do café por meados de 1984, quando os brasileiros estavam deixando de consumir o produto por conta da cada vez mais gritante falta de qualidade associada ao produto.
Selos utilizados pela Associação Brasileira da Indústria do Café
Observar os selos da ABIC é um passo essencial para começar a consumir um café de melhor qualidade e rentabilidade no dia a dia. Então vamos descobrir como o sistema de selos da ABIC funciona.
Selo de pureza ABIC
Como o nome sugere, o selo de pureza da ABIC mede a pureza do café, podendo ser aceito até 4% de impurezas para que o produto seja comercializado. Essas impurezas vão desde pedaços de árvore, insetos e em alguns casos rastros de milho e outros cereais, no caso de cafés com o selo de pureza se tem um cuidado especial para que não haja de fato nada além de café dentro da embalagem.
Porém, se o produto não apresentar o selo de pureza há casos em que esse percentual pode chegar em até 20%, geralmente isso é identificado em cafés extra fortes ou tradicionais.
Selo de qualidade ABIC
A classificação dos cafés que tem como destino a gôndola do mercado é feita diretamente pela ABIC por meio do PQC (Programa de qualidade do café), essa fiscalização de qualidade se estabeleceu em meados de 2004 e considera a pureza e a escassez de defeitos nos grãos de café.
Tradicional ou Extra forte (QG: 4.5–5.9)
Os cafés tradicionais e extra fortes possuem um selo marrom na embalagem, encontrados em qualquer gôndola de supermercado ou rodoviária. Apresentando muito amargor e um sabor levemente caramelizado proveniente da torra escura dos grãos.
São aceitas algumas margens de impureza para a produção desses cafés, elas podem conter impurezas como: pedaços de galho, folhas, grãos defeituosos e até mesmo milho em alguns casos.
Superior (QG: 6.0–7.2)
O café superior é o intermediário, apresentando um aroma levemente distinto e um amargor não tão pronunciado. Esses cafés são identificados por um selo cinza na embalagem e ainda podem conter impurezas quando não apresentam o selo de pureza.
Quando se trata de rentabilidade, o café superior é geralmente o que apresenta mais sabor pelo preço mais acessível em uma relação de custo benefício.
Gourmet (QG: 7.2–10)
O café Gourmet não aceita impurezas, já que deve apresentar uma qualidade acima dos outros, demonstrando notas sensoriais e raramente conténdo amargor. O grande problema de comercializar café de alta qualidade já moído é que a suas propriedades serão severamente oxidadas com o passar do tempo, o tornando em geral um produto caro e não tão saboroso.
Dito isso, há a possibilidade de se adquirir o café em grãos. Embora seja raro que supermercados apresentem muitas opções desse tipo de café, a tendência é que se encontrem muitos grãos de franquias como Starbucks.
A melhor opção para comprar cafés de qualidade acaba sendo direto com torrefações ou cafeterias especializadas, que poderão oferecer um produto mais fresco e saboroso, muitas vezes ao mesmo preço de um café gourmet.
Selo de sustentabilidade ABIC
O selo de sustentabilidade da ABIC pode ser aplicado mediante a avaliação da cadeia de produção do grão, nesse sistema são considerados os processos utilizados desde a plantação até a moagem dos grãos, tomando todos os cuidados para que a cadeia de produção respeito os princípios de sustentabilidade da ABIC.
Além da sustentabilidade da fazenda também é levado em conta a qualidade do produto final, sendo avaliado junto ao selo de qualidade da ABIC e anexado junto a ele na embalagem.
Tipos de produção de café: Industrial X Artesanal
Dentro do mercado brasileiro existo diversos nichos de produção de café, os quais podem ser divididos entre duas principais formas de produção:
Produção Industrial
Como vimos anteriormente, a ABIC é a associação reguladora da produção industrial de cafés no Brasil. Logo os selos abordados são válidos somente quando consideramos esse tipo de produção, fazendo com que a produção de cafés especiais se encaixe dentro dos gourmets, mesmo havendo uma diferença gritante entre esses produtos.
Colocando de maneira simples, a produção de café industrial não tem seu foco em qualidade, mas sim em acessibilidade. Se utilizando de métodos de colheita mecanizados e focando no grande mercado.
Produção Artesanal
Quando falamos em produção artesanal, não significa o mesmo que em pequena escala, mas sim que há um cuidado e um olhar sobre cada grão produzido, geralmente sendo realizadas colheitas e processamentos manuais.
Esse tipo de produção é voltada para a qualidade, gerando o que chamamos de cafés especiais, que apresentam notas sensoriais, sem amargor e geralmente são comercializados direto pelas torrefações ou cafeterias especializadas.
Uma vida mais doce começa por um café menos amargo
Então, a curiosidade bateu pra provar esses tipos de café diferentes?
Você pode encontrar torrefações e cafeterias com bastante facilidade aqui no Brasil, um bom lugar para começar é perto de onde você está. Tente procurar por cafés especiais na sua cidade, se não houverem torrefações ou cafeterias você encomendar por clubes de assinatura de cafés.
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Fontes:
Site: https://www.abic.com.br/
Livros:
James Hoffmann: The World Atlas of Coffee: From Beans to Brewing — Coffees Explored, Explained and Enjoyed
Ensei Neto: Receitinhas para você - Café